Infeções sexualmente transmissíveis

As infeções sexualmente transmissíveis (IST) designam um grupo de infeções cuja transmissão ocorre pela via sexual (vaginal, oral ou anal), quando ocorre troca de sangue e/ou fluidos corporais infetados (sémen, fluidos vaginais), ou contacto destes com lesões da pele ou mucosas. Os agentes infeciosos podem ser vírus, bactérias ou fungos.

Uma forma de te prevenires destas infeções é praticares sexo seguro, isto é, com preservativo ou outros métodos de barreira (bandas de látex).

Sintomas

Muitas IST são assintomáticas, isto é, não apresentam sintomas, mas podem causar problemas de saúde graves (infertilidade, dor crónica, cegueira, danos no fígado) ou morte, se não forem detetadas atempadamente e tratadas. Os sintomas mais comuns incluem, corrimento vaginal ou uretral, dor ao urinar, dor durante a relação sexual, feridas ou verrugas.

 

 

Deteção

A pesquisa de VIH, sífilis e hepatites virais é realizada através de análise do sangue. Existem testes rápidos, cujos resultados são divulgados em poucos minutos, no momento do teste, o período de janela (Link) é de cerca de 3 meses. Com os testes laboratoriais o diagnóstico demora mais tempo mas o período de janela é mais curto (cerca de 4 semanas).

Outras IST como a gonorreia, clamídia, HPV ou herpes, que se desenvolvem em locais anatómicos diversos (garganta, órgãos genitais, ânus) requerem a colheita de urina ou exsudados das zonas correspondentes.

As IST são muitas vezes assintomáticas. A deteção precoce permite um tratamento eficaz e diminui o risco de transmissão.

Tratamento

As IST de origem bacteriana, como a gonorreia, a sífilis e a clamídia, podem ser tratadas e curadas com antibióticos. A reinfeção só é prevenida com o uso do preservativo. O VIH não tem cura mas existem tratamentos antirretrovirais que melhoram a qualidade de vida do doente. Para as hepatites víricas na fase crónica, existem tratamentos que se mostram eficazes.

Como prevenir

O preservativo masculino ou feminino usado corretamente e de forma consistente em todas as práticas sexuais, é um dos métodos mais eficazes na redução do risco de transmissão de IST. Deve ser evitada a partilha de brinquedos sexuais ou o seu uso sem preservativo.

Para prevenir as infeções transmitidas pelo sangue como o VIH e hepatites, deve ser evitada também a troca de objetos pessoais que possam conter sangue (escovas de dentes, lâminas, etc.) ou material associado ao consumo de drogas ou medicamentos injetáveis (agulhas, seringas, filtros, pratas, etc.)

O Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH- link) infecta o organismo e ataca os linfócitos T CD4 positivos destruindo o sistema imunitário. O VIH é um vírus que para sobreviver necessita de invadir as células T CD4+ do sistema imunitário. As células do sistema imunitário acabam por participar na replicação do vírus e são destruídas no processo.

A supressão generalizada da imunidade pode resultar na Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) caracterizada pelo assomar de infeções oportunistas, neoplasias secundárias e manifestações neurológicas incapacitantes que resultam na morte do indivíduo.

O diagnóstico tardio da infeção por VIH tem implicações graves na saúde porque aumenta a incidência de infeções oportunistas, da Síndrome de Imunodeficiência Humana Adquirida (SIDA), e as taxas de mortalidade. Por esta razão conhecer o estatuto serológico é uma arma importante no combate da doença.

A transmissão pode ocorrer através:

  • Da via sexual (contacto com líquido pré-ejaculatório, esperma e secreções vaginais);
  • Do contacto com sangue infetado (partilha de seringas, agulhas, escova de dentes, lâminas de barbear e/ou material cortante);
  • Da via vertical (de mãe para filho pode ocorrer a transmissão via intrauterina, intraparto e/ou amamentação).

O VIH não se transmite através de:

  • Contactos sociais (aperto de mão, toque, abraço, beijo social);
  • Alimentos ou água;
  • Espirros ou tosse;
  • Picadas de insetos;
  • Piscinas ou casas-de-banho.

 

VIH- Fases de infeção

Quando não tratada, a infeção por VIH pode dividir-se em 3 fases distintas:

Fase 1- Infeção aguda: Durante a fase aguda, cerca de 2 a 4 semanas após a infeção, algumas pessoas desenvolvem sintomas inespecíficos e similares a uma gripe (febre, dores no corpo, suores, adenomegalia) que passam muitas vezes despercebidos. Apesar da sintomatologia ligeira, é uma fase em que o vírus se replica rapidamente surgindo um pico elevado de cópias do vírus no organismo. Durante a infeção aguda existe maior probabilidade de infeção porque há uma replicação acelerada do vírus e um aumento exponencial da carga viral.

Fase 2- Infeção crónica: Nesta fase, que dura em média 10 anos, desenvolvem-se anticorpos para o combate da infeção e ocorre uma diminuição acentuada dos níveis de VIH no sangue. Desta forma o vírus consegue viver em simbiose com o hospedeiro permitindo ao organismo regressar a um estado quase “normal “de atividade, o chamado estado de latência. Os sintomas quando surgem são ligeiros ou “silenciosos”.

Fase 3- SIDA: Após anos a combater a infeção, o organismo começa a deteriorar-se e dá-se um declínio rápido do número de células T CD4+. Este facto leva a que se instale a Síndrome de Imunodeficiência Humana Adquirida (SIDA). Com a destruição do sistema imunitário surgem infeções oportunistas e por fim a morte da pessoa infetada.

O tratamento com antirretrovirais permite evitar a progressão do vírus no organismo quebrando o ciclo que leva à destruição progressiva do sistema imunitário.

 

Tratamento

O tratamento para o VIH é realizado com recurso a um medicamento ou a uma combinação de medicamentos antirretrovirais (ARV) que permitem controlar a replicação do vírus e suprimir a progressão da infeção e dos seus sintomas.

Em 2015, a Organização Mundial de Saúde reviu as recomendações no âmbito do tratamento antirretroviral e, com base nas recentes descobertas cientificas relativamente à infeção, definiu que todas as pessoas (sejam crianças, adultos ou mulheres grávidas e a amamentar) infetadas com o VIH devem iniciar o tratamento logo após o diagnóstico, independentemente da contagem de células T CD4+. Pretende-se com esta nova abordagem alcançar no futuro menores taxas de transmissão da infeção por supressão da carga viral, aumentar as taxas de sobrevida dos doentes e a qualidade de vida dos mesmos.

Os avanços farmacêuticos relativos aos ARV permitiram reduzir os efeitos adversos da medicação e a intensidade dos mesmos. Estes avanços têm um reflexo positivo na adesão aos tratamentos diminuindo a necessidade de alteração ou descontinuidade.

Ainda assim, existem efeitos adversos que variam de pessoa para pessoa e cuja manifestação pode surgir de forma ligeira a aguda, sendo alguns potencialmente fatais, no entanto muitos são transitórios e regridem com o tempo. Os mais comuns são, alterações gastrointestinais, febre, prurido, cansaço generalizado, efeitos hepáticos (icterícia, insuficiência, hepatite), alterações na densidade óssea, anemia/ neutropenia, doença cardiovascular, cálculos biliares ou renais, diabetes, dislipidemia, lipidostrofia, entre outros.

O tratamento com medicamentos antirretrovirais deve ser realizado sempre com supervisão médica e acompanhado de análises regulares para contagem dos anticorpos e da carga viral, bem como para monitorização hepática e do normal funcionamento do organismo.

 

Quem deve fazer o teste?

Todas as pessoas com vida sexual ativa devem fazer o teste do VIH. No entanto, este torna-se ainda mais necessário após um contacto de risco:

  • Relações sexuais desprotegidas ou em situações em que o preservativo rebenta;
  • Partilha de seringas ou outro material de consumo de substâncias;
  • Contacto direto com sangue de outra pessoa.

 

A deteção de uma infeção por VIH pode demorar até cerca de 3 meses dependendo do teste utilizado. A maioria das pessoas infetadas pelos vírus apresenta um teste positivo em média 4 a 6 semanas após a exposição. Este período entre a altura em que se adquiriu a infeção e o momento em que os anticorpos desenvolvidos pelo organismo são detetáveis é chamado de janela imunológica ou período de janela.

 Durante este período, na maioria dos casos, a pessoa infetada não apresenta sintomas, no entanto o risco de contágio é elevado pois corresponde a uma fase altamente infeciosa.

A sífilis é uma doença genital ulcerativa causada pelo agente Treponema pallidum. A doença pode ser classificada como sífilis adquirida quando a infeção se dá pelo contacto com lesões infetadas durante a relação sexual (oral, vaginal ou anal) ou através de contacto com sangue infetado (transfusão sanguínea ou partilha de material perfurante). A sífilis congénita ocorre por transmissão vertical (intrauterina, intraparto e pela amamentação). A sífilis evolui em estadios (primário, secundário, latente e terciário) caracterizados segundo os sintomas clínicos da doença.

A sífilis primária corresponde a sintomas delimitados. Surge uma ou mais ulceras indolores, no local de entrada da bactéria, geralmente nos órgãos genitais externos (pénis e vulva), mas que pode acometer outros locais do corpo (ânus, reto, lábios, língua, garganta, colo do útero, dedos entre outros). A lesão ulcerativa produz um líquido muito infecioso e regride cerca de 3 a 6 semanas mesmo sem tratamento. Após esta fase a infeção progride para sífilis secundária.

Quando não tratada, a infeção pelo T. Pallidum pode chegar ao sistema linfático, ao sangue e a outras partes do corpo, desenvolvendo-se a sífilis secundária caracterizada por prurido generalizado (rash cutâneo) lesões na pele e órgãos internos, em conjunto com sintomas menos específicos como gânglios linfáticos aumentados, perda de peso, fadiga, mal-estar generalizado, entre outros.

A sífilis latente ocorre cerca de 3 meses após a infeção e corresponde a uma fase sem sintomas clínicos de doença. Apesar de assintomática é detetável e tratável apesar de serem irreversíveis os danos causados aos órgãos internos.

A sífilis terciária é rara, mas pode surgir em indivíduos não tratados, anos ou décadas após a infeção inicial. Pode existir destruição de tecidos vitais como o cérebro ou coração, levando progressivamente à perda de função dos órgãos e à morte do indivíduo.

Vários estudos demonstraram uma correlação entre a presença de ulcerações genitais e a transmissão do VIH principalmente porque as úlceras destroem as mucosas e permitem a entrada do vírus nessas zonas.

 

Tratamento

A sífilis é uma infeção facilmente curável quando detetada numa fase inicial. O medicamento indicado é um antibiótico injetável administrado via intramuscular. Dependendo do tipo de infeção (primária, secundária ou terciária), são receitadas diferentes doses de antibiótico. Usualmente uma dose de injetável cura uma infeção detetada na fase primária ou secundária, 3 doses dadas em intervalos regulares são indicadas no tratamento da sífilis latente ou de duração desconhecida. Nos casos mais avançados da doença podem ser receitadas mais doses.  

As pessoas com predisposição a reações alérgicas aos antibióticos injetáveis podem ser tratadas com antibióticos orais.

É importante referir que o tratamento permite eliminar a bactéria e travar os efeitos da mesma no organismo, no entanto, não repara os danos feitos no curso da infeção e não confere imunidade, por essa razão, um individuo pode ser contaminado sempre que entrar em contacto com o T. Pallidum. No decorrer do tratamento e cerca de duas semanas após o término, a pessoa infetada deve abster-se de ter relações sexuais sob o risco de ser novamente infetada e infetar outras pessoas. Se possível os parceiros sexuais devem ser notificados para que possam também ser testados e tratados.

No final é recomendável realizar testes de seguimento para comprovar a eficácia do tratamento. 

Os vírus da hepatite B (VHB) e da hepatite C (VHC) são vírus que afetam o fígado e podem ser responsáveis por infeções crónicas evoluindo em alguns casos para cirrose e carcinoma. O modo de transmissão ocorre através do contacto com sangue, fluidos serosos, sémen e fluido vaginal infetados. Estes vírus afetam o fígado de forma aguda ou crónica e com prognósticos de severidade de doença muito variados.

VHC

A via preferencial de transmissão do VHC é o contacto com sangue infetado, sendo que a partilha de material para consumos injetáveis é um dos comportamentos que apresenta maior risco. Mais raramente pode ocorrer transmissão via sexual através de sexo desprotegido e via vertical de mãe para filho.

O vírus causa uma infeção aguda ou crónica na maioria das vezes assintomática durante décadas. Após a infeção o sistema imune pode reagir eliminando a doença e em alguns casos a infeção crónica pode não resultar em danos hepáticos. Os medicamentos mais recentes no combate à infeção por VHC permitem curar a maioria das pessoas tratadas.

VHB

O Vírus da hepatite B (VHB) é um vírus muito infecioso (100 vezes mais infecioso que o VIH/SIDA) que pode sobreviver até 7 dias fora do organismo e infeta apenas os humanos.

As vias de transmissão mais comuns são o contacto com sangue, fluidos vaginais e sémen infetados, seja através de sexo desprotegido (oral, vagina, anal) ou partilha de objetos cortantes) No entanto também ocorre transmissão vertical, e de criança infetada para criança não infetada nos primeiros 5 anos de vida. A implementação de programas de vacinação em crianças permitiu reduzir o número de infeções a nível mundial.

A vacina desenvolvida regista uma eficácia de cerca de 95% e pode ser tomada por todas as pessoas. O esquema usual é de 3 doses. O Porto G disponibiliza aos/às seus/ suas utentes o esquema completo de vacinação de forma gratuita.

A hepatite B nem sempre apresenta sintomas e pode curar-se espontaneamente ou em alguns caos evoluir para uma doença crónica.

O HPV é um vírus frequente nos humanos, responsável pela formação de lesões chamadas papilomas. Existem muitos tipos de HPV, mas apenas alguns estão relacionados com o desenvolvimento de cancro. O HPV pode alojar-se no interior ou exterior da vagina, pénis, testículos e garganta.

Este é um vírus de transmissão por contacto, isto é, não é necessário haver penetração ou ejaculação para que o vírus se transmita, basta que haja contacto íntimo de pele ou mucosas com pele infetada. As verrugas podem ser visíveis mas existem algumas tão pequenas que não se vêm a olho nu, por essa razão inspeção visual nem sempre é suficiente.

O uso de um método de proteção de barreira (preservativo ou banda de látex), em todas as práticas sexuais, reduz significativamente o risco de exposição ao HPV. O preservativo feminino é seguro e protege mais nas situações em que basta o contato para existir possibilidade de infeção. Isto, porque além de impedir o contacto com sangue ou sémen infetado, cobre toda a área vaginal, incluindo a vulva (parte externa da vagina).

 

Transmissão

A transmissão pode ocorrer através de relações sexuais (oral, vaginal, anal desprotegidas), contacto com pele infetada, partilha de roupa interior e/ou toalhas ou de mãe para filho.

Sintomas

A maioria das infeções por HPV são assintomáticas (não revelam sintomas), principalmente numa fase inicial. Quando o vírus se multiplica podem surgir sintomas como:

  • Verrugas na zona genital (vulva, colo do útero, pénis, testículos e/ou uretra), na zona oral (lábios, boca e/ou cordas vocais), na zona retal (ânus, reto), e em outras partes do corpo onde houve contacto com pele infetada, como, por exemplo, nas virilhas e/ou nas coxas;
  • Sangramento, dor ou formação de pus no ânus;
  • Alterações na cor/espessamento da pele do pénis ou vagina;
  • Prurido local.

 

Nas mulheres as verrugas podem evoluir para cancro do útero, por essa razão devem ser vigiadas. A realização do teste do Papanicolau (citologia cervical) regularmente permite detetar a presença do vírus e quando detetado possibilita avaliar a sua progressão no organismo.

No homem apesar de mais raro, existem casos de cancro peniano causado por HPV. O diagnóstico é realizado por inspeção visual, análise de exsudados e biopsia das lesões.

 

Tratamento

Em cerca de 90% dos indivíduos afetados, o sistema imunitário elimina o vírus (principalmente as estirpes menos agressivas) sem recurso a tratamento. Se existir persistência de sintomas, pode ser necessário tratamento de acordo com indicação médica. A maioria dos sintomas de HPV, como as verrugas, podem ser tratados através de métodos químicos ou cirúrgicos.